29.5.15

o poeta é um fabulador

Se não me emendo às vezes em uma conversa séria é porque fico na "reparação": dúbia palavra, que ora costura uma poética, ora me faz olhar fixamente meus arredores. Me evanesço na observação da paisagem e de seus habitantes (coisas, bichos-outros e bicho-homem), esperando os conflitos que nela e entre eles se impõem, sobrepõem-se. Por isso, gosto mais de escrever fingimentos do que relatórios.

Posso confabular, né?

Os salva-vidas ficam nesse mesmo exercício. À frente, uma paisagem de risco. Uma beleza traiçoeira de força fenomenal. Cada câimbra é um evento. Crise no mar. Mocinhas e mocinhos em beijos de cinema, fôlegos em ultrapassagens, avanços de sinais, e massagens no ego - ainda que cardíacas.

Quando um acidente? Quando uma fatalidade?

Todo mundo deveria se permitir a simulação de um afogamento um dia. O faz-de-conta é um bom pedacinho da existência, um zelo consigo mesmo, um colete flutuante.

Finjo esse bote inflável. Ou inflo esse bote fingível. Justo porque não me dá pé só molhar os dedinhos e a nuca em marolas frouxas. Meu brinquedo é abissal. Yellow submarine.

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