27.8.14

m/eu presente

tornar-me
somente
depois de tombos,
tomos,
túmulos

eu não.

antes disso,
não me tirar
o direito
de ir e devir
o que seja

venho a ser eu.

20.8.14

essencialíssimo

estou elaborando um perfume,
longe de querer a perfeição dos frascos franceses

mas vou buscando uma nuance
essencial em mim,
inspirando-me em flor que se cheire

até o próximo despetalar-me em quereres:
bem ou mal

14.8.14

documento

Escrevo porque me comprometo com meu pensamento, meus desejos. Prova efêmera das minhas crenças. Divido-me entre as angústias da prisão de se manter uma postura una frente às coisas e a sensação de ser bexiga com hélio - vermelha - no encontro com as nuvens (algo da ordem seixaniana, ambulanteana).

É uma forma de me lembrar sobre minha (po)ética. Reconhecer minha firma. A escrita me autentica, me documenta.

12.8.14

ao te reencontrar no Tinder

quando incógnito o desejo,
não sei...
se texto ou imagem
se amigos ou interesses
se avanço ou retrocesso
se papo ou silêncio

xis ou coração:
apertar o quê?

na dúvida kind of shake/speareana,
de abalos e chacoalhões dentro do peito,
apertarei os cintos
neste avião em turbulência
(por favor, desliguem seus celulares)

esquerda ou direita?
usar os dedos
pode ser um deslize
incorrigível

aplicadamente,
evitarei o imperativo do aplicativo
mientras que
enquanto
las piernas
tiem-
as pernas ainda
-blan
tremerem

10.8.14

quer dizer

A coisa mais bonita
que posso dizer
é a coisa não-dita

Mas eu não me convenço
com minhas próprias
reticências

(e insisto em me explicar
entre parênteses,
paredes,
parejas)

8.8.14

r/emoção

O amor me (re)move
Me tira e põe d/nos meus lugares
Me leva a qualquer parada
Me dança, me lança, me enche a barriga

O amor é uma divindade em nós,
É encarnação,
abstração,
desobstrução

A nós, sujeitos em verbo,
joelhos dobrados à palavra
mais sentimental de todas,
eu sugiro:
Amemos o próximo
(e os distantes)
sem muitas explicações