28.12.09

Sem pisar em falso


Se por um lado ser visto como paradigma da responsabilidade socioambiental é angustiante (lembra do caso da ecobag?), por outro há algumas vantagens. Como um presente de amigo secreto que ganhei no trabalho.

A brincadeira era uma troca de Havaianas que mais tivessem a ver com o perfil do presenteado. No dia da revelação, vi de tudo: sandálias com lacinhos, de dedinho, sem dedinho, pink, branca, preta, estampadas com motivos da natureza, do surfe, blocos de anotações em formato de solado... Entre tantas, adivinhe qual versão ganhei.

Tanise Mondejar, também jornalista da editora onde trabalho, me mimou com um lindo e responsável par de sandálias ecofriendly. Segundo Tanise, quando procurava algo para mim e tropeçou neste par, valeu o investimento de tempo e paciência por duas razões: a estampa é bem natureba, apresentando o bicho-preguiça em seu hábitat natural estilizado – “minha cara”, segundo ela; depois, a São Paulo Alpargatas, empresa detentora da marca Havaianas, destina 7% do valor arrecadado com a venda do modelo ao IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), que é considerado uma das maiores ONGs ambientais do País, com mais de 90 profissionais trabalhando em cerca de 50 projetos entre o Pará e o Paraná.

Se você conhece meu sorriso, multiplique a imagem que tem dele por três! Se não o conhece, imagine o velho e bom jeito de mostrar os dentes de orelha a orelha. Fiquei super feliz com o presente e carinho, tanto que levei as minhas sandálias novas para passear na Cachoeira de São Francisco (Pedro David), em São Francisco Xavier, SP – cidade onde passei o feriadão do Natal sem pisar em falso.

Tá precisando – mesmo? – de um novo par de sandálias ou vai dar um presente legal para alguém? Lembre-se da linha Havaianas-IPÊ, que está em promoção no site da ONG. Saem por R$ 10 e 15 + frete! Clique aqui.







19.12.09

Pedais, os demais

das vezes que quis atravessar
a meta, a reta, minha rua
- sinal vermelho:
pedalar
não dá
São Paulo não é
para quem evita os carros,
a fumaça dos escapamentos,
o congestionamento
se precisar ir a algum lugar
em São Paulo,
não vá de bicicleta
porque aqui é assim
- se você não pedala,
pedalam você




- embora possa parecer, este não é um post propaganda anti-movimento "Vá de bike", e sim um desejo de que a realidade do ciclista na cidade de São Paulo fosse outra: pudesse ser tratado com respeito pelos condutores de veículos e que houvesse ciclovias com sinalização e capeamento adequados. Sou ciclista (exclusivamente) de parques porque não me sinto seguro para pedalar pela cidade.

13.12.09

Paula, Suane e Cachorro na internet

À espera das mães que conversavam sobre a rotina da Vila de Paricatuba, em Iranduba-AM, brincavam Paula e Suane sob a sombra de uma árvore bem no centro da comunidade.

Paula, timidamente, não diria uma palavra até que eu descobrisse seu nome, revelado pela mãe. "Então, você se chama Paula?", abri-me. "É", disse monossilábica. Eu lhe contei que tinha uma amiga com o mesmo nome, de quem eu gostava muito, que sempre achei um nome bonito etc. Ganhei a criança. Dali para a frente, eu teria uma companheirinha curiosa sobre o mecanismo da câmera e segundos de uma divertida chance de acompanhar o encantamento de quem não sabia ser possível guardar a imagem de alguém numa máquina esquisita como aquela, para depois poder distribuir por aí. Paula se animou e me contou o nome de sua amiga gulosa.

Suane, com um inseparável salgadinho, mordia as bolinhas de milho sem cessar ao passo que eu as acompanhava na descoberta da fotografia. A "Magali do Amazonas" queria ver tudo e até ser fotografada por Paula. Dava risada quando se espelhava no visor da câmera. De volta em minhas mãos, enquanto eu me esforçava para limpar o farelo de salgadinho da objetiva, um cachorro se aproximava, balançando rabo e orelhas. Magro, triste, tinha tumores nos mamilos e parecia sedento. "Olha só, um cachorro. Qual o nome dele, Suane?". "Cachorro", disse-me sem constrangimento. "Mas todo cachorro tem um nome, não é Paula?". "O dele é Cachorro". Engoli a história a seco e me mantive a clicá-las. Sem contestações.


Até descobrir os latões de seleção de lixo que podem ser vistos atrás das meninas nas fotos. De quando cheguei ao Amazonas, fui me frustrando aos poucos, achando que educação ambiental era só para quem vinha de fora, que a população de lá desconhecia o que era respeitar o meio: vi animais explorados, lixo sendo depositado languidamente sobre o rio, toras de madeira supostamente ilegais... Mas o que despontava por trás das meninas e de Cachorro era a pedagogia em função da educação ambiental.

As crianças, como Paula e Suane, que frequentam a escolinha aprendem a importância da separação de materiais para a reciclagem e de como isso pode beneficiar tanto o meio ambiente quanto a elas mesmas. Por exemplo, naquela época, a escola fazia uma campanha de arrecadação de papelão. Se eles alcançassem um certo peso da matéria-prima, poderiam vendê-la a fim de comprar o aparelho que faria que a escola tivesse acesso à internet pela primeira vez.

Obviamente, seria fundamental que o governo fornecesse o aparato para aquela escola estar plugada. Porém usar o esforço dos alunos e das famílias para obter melhorias estruturais tendo como mote a seleção de materiais e a reciclagem é uma vantagem educacional que aquela comunidade tem. Pontos para quem teve a ideia e quem conseguir executá-la.

Paula, Suane e Cachorro se dispersaram. Fui andar pela vila para conhecer um pouco mais da região, que fica a 30 minutos de barco da capital. Na volta, pelo caminho, nem sinal do saquinho que abrigava os deliciosos salgadinhos de Suane. Fica a pergunta: onde será que ela jogou aquele perigoso plástico?

5.12.09

Ecobárbara

Descia a rua Frei Caneca com visitas que eu tinha em casa. Uma delas, meu primo Marcelo. Entre nossas conversas, vejo uma amiga atravessando a rua. Vinha com umas cinco ou seis sacolas de supermercado na mão, talvez cheias de coisas gostosas para se comer em um domingo à noite.

- Oi, Bárbara! Como vai, linda? Fazendo compras, heim?

- Ai, Romulo, eu tenho tantas ecobags em casa, mas sempre esqueço de trazer para o supermercado - alertou-me como se estivesse sendo julgada por mim. Assim seca, direta, sem rodeios.

Eu mal sabia o que falar. Fiquei atônito, por segundos, sem movimentar um músculo da boca. Minha graça estava estatelada no meio-fio. Só me perguntava: "por que será que ela se justificou? Só lhe perguntei se fazia compras... nada mais".

Meu primo nos jogou coletes salva-vidas: para mim, por ter quebrado o silêncio além-estratosfera que me constrangia inteiro; para Bárbara, por tê-la confortado com um discurso libertador, que a faria temer menos o meu olhar de "feitor ecológico, juiz de toda e qualquer ação contra o meio ambiente". Ele explicava-lhe que, se todos deixassem de usar sacolas plásticas, muitos perderiam seus empregos. Portanto, em vez de um problema ambiental solucionado, haveria um social ainda mais importante - concordo.

Em tempo, respiramos fundo, eu e Bárbara - cada um no seu fôlego aliviado -, e nos despedimos.

Posta a crise: o que as pessoas pensam sobre mim, sobre meu comportamento ambiental?

Segundo a criativa e perturbadora sentença de Marcelo, filósofo e meu primo nas horas menos filosóficas, meu trabalho e esforço diário consistem em fazer uma lavagem cerebral nos meus colegas, amigos e leitores, conduzindo-lhes a um pensamento ecoterrorista, escravizador e desumano. Ainda de acordo com sua imaginação, quem foge das minhas rédeas leva chibatadas com um chicote feito de garrafas PET recicladas - ok, admito, esta última foi engraçada.

Confesso que, de alguma maneira, a imagem que muitos têm de mim me incomoda. Não sou ícone da consciência ambiental, tampouco mártir da revolução ambientalista. Sou, sim, alguém que se importa com o impacto das minhas ações sobre as coisas, animais, pessoas e espaços. Minha bandeira é verde, mas não a elevo em vão. Tudo tem seu tempo. Eu ajo pelas beiradas, como uma boa formiga faz para carregar uma folha de bananeira até o formigueiro. Odeio ser pressionado, logo não pressiono.

É certo que usar sacolas plásticas com alguma atenção e economia pode contribuir para o não-desperdício. Se você recusar aquelas três sacolas que o empacotador do supermercado insiste em colocar duas caixas de leite dentro delas, seu feito já terá algum benefício ambiental. As ecobags são uma mão na roda no dia a dia, mas as sacolinhas de plástico têm seu valor funcional. Vez ou outra, aqui em casa, de tanto usar ecobags (tenho uma coleção imensa, que tento doar sempre que posso), temos um déficit de sacolas plásticas e não há onde colocar o lixo orgânico ou o selecionado para descartá-los. Por isso, ser razoável é a melhor maneira de agir.

Se der para carregar a ecobag com você, ótimo. Caso não, traga as sacolinhas plásticas para casa sem culpa. Use-as quando necessário. Prometo não dar chibatadas com dores de PET se vir sacolas plásticas em vez de ecobags quando nos encontrarmos na volta do supermercado.


Ah! E a primeira pessoa que fizer um comentário sobre este post, leva a ecobag da foto. Mas precisa dizer: "eu quero a minha ecobag sem chibatadas".