22.4.12

bungee jump

eu me rendi
desisti de resistir à reexistência
- estou rebubinado

antes, contrário ao modus operandi
agora, operando no modo contrário,
contrariado, contrariando

procurando lá atrás onde
erraram comigo,
me deixei errar

busco o fio da meada,
a agulha no palheiro,
a peça do quebra-cabeças faltante

Ana
Cristina
Cesar,
onde quer que esteja,
me diz:
como ser e estar se encontram
como fazer de interrogações
sentenças afirmativas
como, como
recomeçar
sem se atirar da varanda,
essa que seduz de espartilho e salto alto

você deveria ter experimentado
o bungee jump
em vez daquele paraquedas

20.4.12

cio e divórcio


Tec-tec-tec. Achei que fosse a chuva na janela de vidro, mas era você batendo seus dedos pesados no teclado do notebook. Sexual, sua batida é uma preliminar.

Olhos abertos na madrugada, luminária de luz amarelada e tímida sobre a escrivaninha. Você sentado na cadeira me reescrevendo, me recriando em personagens que jamais sonhei ser. Experiência de quase-morte é todo ponto-parágrafo que você demora a continuar.

Finjo dormir para não ter de sair da cama e enfrentar a porta de saída (aquela de emergência). Eu me casei com sua literatura e só. Você só casou com minha rotina. Nós dois a sós não somos letra e música mais. Você é máquina de escrever histérica movida a papel demodê; eu, tablet multitoque com tela capacitiva. Conflito de tecnologias, gerações.

Peço o divórcio. Preciso dormir só mais cinco minutinhos. E em silêncio - de preferência.

13.4.12

conforme combinamos

posso te dizer uma coisa?
assim é que eu quero tudo entre nós:
ramos de alfazema, doce de abóbora e brotos de feijão
agora, me diz algo sobre você que eu já não saiba

li seus gestos com atenção, mas falhei na despedida
uma palavra bem colocada faltava naquele tchau
inteiramente entregue estarei quando chegar aqui, aí
zaz! Serei todo abraçar que você deseje ter comigo