25.4.14

refeito o capim

Ele valoriza apertos de mão, delicadas mordiscadas nas superfícies, pesos e contrapesos. Bermudas ao chão, intimidades e um tanto mais. Amorosos receios, ele os preza. Também preza pedacinhos de cumplicidade: atravessar na faixa de pedestres, retocar a tinta da travessia com o passar do tempo. Tensão, o tesão de ultrapassar o sinal amarelo, sapatear na quadra da escola de samba, comer acarajé pela metade, lamber sorvete de flocos.

Ele gosta de capins, mas não de cupins.

Ele me confundo. Eu o confunde.

No banco do carona, ele sou eu. Motor ligado e um tanque cheio de combustível. Abraços afetuosos na descida maior da montanha-russa - um elevador indo ao subsolo. Chocolates dando recados precisamente. Preciosos textos que não são entendidos por outrem. Contextos tampouco. 

E se assim é, que fique entre nós o que for fato, o que for hardnews e/ou o que, de fato, for literatura. Leituras inéditas se ocupam de minha cabeceira agora. Preparei muitos marcadores de página. Não quero finalizar um só livro de hoje em diante - até que eu mude de ideia mais uma vez. Prefiro poucas e boas recordações aos recordes impraticáveis das estantes. Escrevamos mais! Vamos além desses parágrafos iniciais, convido-me/o. 

20.4.14

foi bom pra mim

Acasos. Há casos. Há hahahas. E brigadeiros no café da manhã.

Abraços. Há braços. Há forças. E música na madrugada.

Há um dia.

11.4.14

Timor-Leste é o país do futuro

Verônica e Sheila são amigas
quase inseparáveis

é que Verônica,
vez em quando,
vai para o país do futuro

se para Sheila é madrugada em nossas praias,
para Verônica, é entardecer lá no leste da ilha Timor

quando para Verônica é teto de constelações,
para Sheila, uma estrela só reina

Sheila adora as viagens no tempo
que Verônica faz
embora a saudade se apresse
e apareça a qualquer hora em ponto

nos dias de jornada de volta pra casa,
é uma confusão só:
os ponteiros de Sheila tiquetaqueiam para frente,
os de Verônica vêm no reverso,
varrendo nuvens, continentes e oceanos

enfim, o presente chega de avião

é um abraço,
é um copo de cerveja
além do desejo mútuo
de que ambas permaneçam
quase inseparáveis,
como todas as amigas
(dessas que se confundem
por horas e horas
em qualquer terreno que estejam)
gostam de ser

8.4.14

alface à moda da casa

Hora do almoço. Aqui nesta praça de alimentação, ninguém é comensal. É todo mundo bicho que devora alface sem etiqueta alguma. Talvez, um nome bordado em tira de tecido a se por nos pezinhos da verdura: hidropônica, orgânica, envenenada. Qual é a sua? Dobrar a folha inteira, desdobrar-se para mostrar finesse no uso de garfos e facas - os primeiros sempre à esquerda. Nesta praça de alimentação, eu não me contento ao ver pessoas vestidas de Saint Laurent, Valentino e Chanel sem rasgar suas folhinhas com delicadeza. Eu não quero saber das suas etiquetas abaixo de cada gola - não é isso - mas das palavras que nunca podem ser ditas em um fast food. Um gole de Coca-Cola e tudo vai por água abaixo. Água e açúcar abaixo.

Glorinha Kalil não sabe o sabor de uma alface comida com as mãos, eu suponho. Glorinha Kalil não será convidada para minha próxima ceia em casa porque não sei me comportar em minha intimidade. Jantarei sozinho, fazendo rolinhos de alface com azeite e sal, levando-os direto à boca com as mãos. Oferecerei um banquete a mim mesmo: uma tigela cheia de crespas, lisas e roxas variedades de leveza crocante. Só cuidarei para não me intoxicar. Dizem que água sanitária resolve tudo; a gramática das etiquetas inclusive.