29.5.12

passando a limpo

vale o que eu digo
porque você é a resposta
para o que tanto passado me condenou

o presente é reajuste,
ajuste das horas,
minutos
e intermináveis segundos pelos versos com que prendo sua atenção

os pés freneticamente móveis,
turbinas de avião em silêncio

essa conexão ao som de teclas,
envergadura de asas em placas de metal

descalço, eu o convido a uma dança
entre nuvens e estrelas desta noite

esse som de mar que vem do Seu peito,
ronronar de gato tímido
ansioso por uma solução

risco, ranhura, unhas perversas sobre uma almofada,
ninho que aconchega entre os pelos do Meu peito

você, gato meu, minha sanha
a assanhar-me o que não tenho na cabeça,
mas sobra no corpo inteiro:
resquícios seus,
minha vontade de suar
ao seu suor


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para FNJr.

27.5.12

arquitetando tanto

por trás de portas que não se abrem,
sobre plantas que não se movem,
flores eu colho e dou como retribuição
para você

enfeites do jardim de cores e pixels
que você projetou para nós dois,
elas não têm nome, cheiro,
mas formas, sim:
pincéis do Microsoft Paint®

elas têm o tamanho exato de nossa vontade,
viver o para sempre a cada dia,
arrumando um buquê de bem-quereres

repare

da varanda lateral, jogarei as sementes
em todo o gramado
para que o solo possa abrigá-las
e, em dias de sol como o hoje, do alto do cômodo
envidraçado, cujas paredes, embora frágeis,
têm a transparência reveladora
de um sentimento que se estenderá
além dos pilares,
das cercas,
da calçada,
eu me atiro entre elas
para germinar

lá de cima,
tomando café-com-leite
para umedecer as mastigadas do bolo de ovos,
balançando na cadeira,
veremos nossos meninos brincarem no quintal
- sejam eles gente ou bicho,
amém de todo modo

a casa que projetou para nós
levará nossos nomes na entrada
para alertar que, além de donos,
aquela propriedade é a sede
de uma felicidade mútua

a casa que projetou para nós
terá concretude em vez de concreto,
terá sentimento em vez de cimento,
terá vida em vez daquela viga sobre a qual discutiremos
se estará no ponto certo

terá tudo no lugar
e lugar para tudo

será abrigo
sem obrigação,
mas pelo bem que faz ao amor
se um lar se encontra

brindemos nosso teto
e fundamento,
nosso primeiro
aval para casar

casa e casamento
eu aceito
sem dúvida


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para FNJr.

15.5.12

na ponta do lápis

ainda gosto de apontar os lápis que tenho
mesmo que prefira escrever com teclado
- me excito com a penetração da madeira
no apontador, com o roçar
do grafite na lâmina cega

meu gozo é incalculável,
são de um tom acinzentado
o risco e o resultado da masturbação
(que se espalham em poeira
sobre meu colo,
minhas mãos)

o rascunho é a melhor preliminar entre
um texto e um poeta

14.5.12

sem mais, nem mas

- mas o circo te chamou?,
perguntou aflita

mais alguns instantes:
- mas saiba que vida de circo não é fácil,
afirmou como se já houvesse passado anos sob a lona

mais aplausos

eu, debaixo da barra de sua saia ainda,
tentando me equilibrar na bamba faixa de pedestres das ruas que hoje atravesso sozinho,
sem mãos dadas,
vejo na plateia
holofotes vermelhos,
velas verdes,
mas seus olhos (os dela), são um brilho amarelado de alerta:
- espere aí, meu filho

sem mais, nem mas:
- sim, mãe, o circo me chamou.
Quer pipoca ou algodão doce?,
eu ofereço meu mais novo espetáculo

4.5.12

nem tchum

hola, que tal
nadie

hallo, wie ghets
niemand

oi, como vai
ninguém

vo, du, vc nem tchum
para o meu tchan