A poesia é para poucos:
os que correm de potes de ouro e se vestem de céu
os que querem ser lembrados, mas que esqueceram o próprio nome
os que gostam mais de amores e dissabores do que de relatórios
os que se inspiram e que em si piram
os que negam as verdades e se entregam à dúvida
A poesia é para muitos:
os que se alimentam de versos e se emprestam às dores de barriga
os que brindam com taça vazias
os que enfrentam maremotos
os que se enfrentam
os que se doam
Rimas ricas ou rimas pobres,
todas são poesia
A poesia é para todos
21.3.14
20.3.14
lindo engano, ledo
A gravata que embeleza o traje
é a mesma que enforca
O Louboutin que combina com a bolsa
também sacrifica calos e joanetes
As aparências enganam
- as dores enganam não
é a mesma que enforca
O Louboutin que combina com a bolsa
também sacrifica calos e joanetes
As aparências enganam
- as dores enganam não
8.3.14
a/mar/é
O amor é o mar. Já vi gente que só molha os pezinhos e quem experimenta apneias. Vi os que surfam e os que catam conchinhas. Eu vi neguinho se afogando, mas vi também deliciosas flutuações. Vi salva-vidas; vi vítimas de águas-vivas e tubarões. Vi respirações boca a boca, vi jangadas virando.
Vivi o mar e suas marés;
vivi o que amar é de verdade.
Vivi o mar e suas marés;
vivi o que amar é de verdade.
botões em minha casa
Descobri o que já não é mais a minha casa. De fato, não sei qual é a minha. De fato, não sei se quero mudar de casaco. De fato, nada é fato em mim. É tudo como uma camurça sobre um divã. Tudo superfície.
Quero ir para um lugar que não existe. Sim, esse lugar não existe, Arnaldo, eu sei disso.
Esse lugar sou eu.
E meus botões.
Quero ir para um lugar que não existe. Sim, esse lugar não existe, Arnaldo, eu sei disso.
Esse lugar sou eu.
E meus botões.
de_coração sem revista
eu fechei o livro depois de ler
fechei a cortina para mostrar o caimento
fechei a tampa do vaso
enrolei o fio dental daquele jeitinho
para jogar na lixeira
guardei os sapatos no lugar
aguardei com o sorriso tinindo
e as solas cheias de calos
esperei na poltrona da sala
depois de me cansar
entre os vãos do corredor:
percorri quarto,
sala,
área de serviço,
catando as coisas que espalhei
para não sair feio na foto
coloquei flores nos vasos
e me dei conta de que nossa casa
só não é capa de revista
porque nenhuma revista publica
o que é, essencialmente,
de_coração
fechei a cortina para mostrar o caimento
fechei a tampa do vaso
enrolei o fio dental daquele jeitinho
para jogar na lixeira
guardei os sapatos no lugar
aguardei com o sorriso tinindo
e as solas cheias de calos
esperei na poltrona da sala
depois de me cansar
entre os vãos do corredor:
percorri quarto,
sala,
área de serviço,
catando as coisas que espalhei
para não sair feio na foto
coloquei flores nos vasos
e me dei conta de que nossa casa
só não é capa de revista
porque nenhuma revista publica
o que é, essencialmente,
de_coração
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