4.7.08

saída de emergência

Apartamento 31, Alameda Santos, 1456. São Paulo, SP

Na porta, um pedaço de queijo do sanduíche de horas antes ainda na boca. Caminhava sozinha à espera dele. Lado, outro. Migalhas sobre o tapete teriam sola e pisoteio. Vestido pronto para o uso sobre a cama. Um ferro alisara o que a goma umedecia. Sem mais vincos, a segunda pele descia despida de obstáculos em seu corpo fino. O cabelo solto balançava o nervosismo da espera.

Ele ligou na noite anterior. Não deixaria de vir. Um gole de vodka para ficar menos ansiosa. Que frio. A janela precisa ser fechada. Vou ver se o carro chegou na portaria. Deve ser o trânsito. Toda sexta à noite é a mesma coisa naquele viaduto. Vou esperar mais um pouco. Se não chegar, ligarei para ver o que aconteceu.

Sentou na poltrona segurando o vestido rente ao corpo para não amassá-lo. Olhava o relógio sem que os olhos piscassem. Faltavam quinze minutos. Apontava com o indicador para o ponteiro dos segundos. Acompanhava a trajetória com gestos no ar. Ria para disfarçar a ansiedade.

O celular toca. Um susto que vibra os pulsos e a cabeça. Sandra, vai ficar difícil hoje. Joana quer sair. Esqueci que há vinte e sete anos eu a encontrei pela primeira vez. Saco. Mas amanhã é seu dia, viu?

Olha para o aparelho como quem deseja contato. Mas a voz, presa e truncada. Sandra? Sandra? As chaves são caminhos até a calçada. No elevador, o espelho lembrava a dedicação da maquiagem. Olhos vermelhos. Botão vermelho em andar algum. O elevador estaciona.