2.4.10

Março se foi; a poeira, nunca

Você pode ou não saber, mas existe uma razão mais nobre que a comercial para se fazer do mês de março, especialmente o dia 8, um período do ano dedicado às mulheres. Receber flores do chefe, presentes das empresas, inúmeros cartões e jantares dos maridos não significa a real representação da data que, há cem anos, vem sendo marcada por lutas e manifestações dos movimentos feministas em todo o mundo.

É que em 1910, durante a Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, a alemã Clara Zetkin propôs a criação do dia internacional da mulher. Mas a data que todos conhecemos, 8 de março, só veio a ser fixada mesmo em lembrança às operárias russas que, em 1917, promoveram uma ação reconhecida como o princípio da Revolução Russa. É daí que, provavelmente, o dia tenha sido escolhido. E, desde 1922, a data é símbolo de passeatas, discussões, marchas e outras ações em prol da reavaliação - e justificada equalização - de direitos e deveres entre homens e mulheres, e a criação de legislação e programas sociais que favoreçam a autonomia e a liberdade das mulheres em relação a diversos temas que pedem atenção sempre constante.

"O que defendemos é uma sociedade em que homens e mulheres sejam livres para desenvolver todas as suas potencialidades. O 'ser feminino' e o 'ser masculino' são construções históricas. Não podemos, em nenhum momento, dizer que somos iguais, pois temos corpos diferentes. E é urgente que essas diferenças sejam respeitadas", me explicou, por email, Eliane Barros - jornalista, feminista e ativista do movimento. Foi ela quem sugeriu este post no blog, que veio com certo atraso, mas mesmo assim pertinente.

Ainda que eu seja um homem e com o "ser feminino" em mim construído de uma maneira bastante peculiar, ratifico toda a proposta do movimento e apoio a revisão de todos os conceitos, especialmente quando se trata das diferenças entre homens e mulheres, físicas e comportamentais. "Uma delas, por exemplo, é que nós engravidamos e vocês, não. Dada essa diferença, exigimos o direito sobre nosso corpo, de optar por ter ou não o filho. Não se trata de defender o aborto, mas sim, de descriminalizá-lo e de tratá-lo como uma questão de saúde pública", ressalta Eliane. Agora, vai explicar isso para a liga das mulheres de Jesus Cristo neste país, onde uma rede de comunicação assumidamente católica disputa espaço com outra evangélica - e que, talvez, tenham lugares de mesmo tamanho e conforto nas salas das famílias hoje. É a hegemonia das redes de TV que vestem seu espectadores de culpa e pecado em detrimento de seu arbítrio livre. "Fazer as pessoas entenderem que o aborto é uma questão de saúde pública é o ponto mais difícil. Afinal, seria lindo se todas as mulheres tivessem condições de criar seus filhos, ou mesmo de ter acesso a todos os métodos contraceptivos", completa.

Em muitos momentos, eu tive vontade de lutar pela causa delas, saber como funciona o movimento, me aproximar de seus pensamentos. Eliane me explicou que não daria para participar das reuniões das construções dos atos (os dias em que elas planejam as ações), mas posso ter relevância nas manifestações públicas: "Não que o movimento seja sexista, essa é uma decisão histórica do movimento feminista, pois muitas mulheres não tinham coragem de falar diante dos homens tamanha opressão que sentiam", conta. Segundo ela, durante os atos (marchas, passeatas, panfletagem etc) a presença de homens é indispensável para ratificar a importância do movimento.

Embora a data tenha sido engolida pelas artimanhas do grande Espírito Capitalista para movimentar o comércio, ela é relevantíssima. O mês de março já era, mas a poeira não vai baixar nunca - ou, pelo menos, enquanto houver desigualdade e muitas batalhas pela frente. Eliane destaca: "Tendo em vista tamanha mercantilização de datas históricas como o 8 de março, com marcas de roupas e cosméticos fazendo uso dela para justificar promoções, acho importante divulgarmos o porquê dessas datas, como elas nasceram e tal. Caso contrário, muitos homens continuarão se perguntando: por que não existe um dia dos homens também?"

E que ninguém me pergunte isso jamais.

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Veja os panfletos produzidos por Eliane Barros e Paula Sambo (layout e texto, respectivamente), ambas amigas minhas, para a marcha que aconteceu na semana do 8 de março deste ano. Elas disponibilizaram para mim e eu gostaria de dividir com vcs. Basta clicar nas miniaturas que estão espalhadas pelo post para abri-las em formato maior. Salve no seu PC e leia.

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  MULHER DA VEZ















É uma menina ainda, mas com ideias firmes, fortes, complicadas de se dobrar. A linda da foto é Larissa, minha sobrinha, que cresce a esticões típicos da adolescência e amadurece com as tão intensas dores de deixar a infância para trás. Dedicada aos objetivos e com um senso de justiça imenso, será uma mulher de raiz, fibra e lutas - como são as mulheres que mais admiro hoje. Lalá, como a acarinho, foi clicada pela prima
Rafaela.





1 comentário:

Larissa disse...

Tio muito lindo, amei (L'

saiba que para ser essa menina que eu sou hoje devo muita coisa a você, e uma delas foi sempre seguir o seu exemplo, nunca desistir do que desejo e seguir em frente.

Tio Rominho, ich liebe dich sehr
beijos, de sua sobrinha Larissa :*