30.8.09

recusa

você me deu água na boca,
uma vontade de adoçar metade
da xícara quase cheia de café
que lhe propus

me apresentou os olhos,
os dedos sujos de evitar escombros
e foi embora como quem renega o entulho

não quis conhecer minha letra,
porque a capa do caderno se mostrou
manchada demais

abandonou vestígios
- como quem come chocolate
em dias quentes sobre os lençóis

você me deixou sem dizer meu nome próprio,
completo, como eu quis que me conhecesse
a íntima identidade

me negou uma chance de oferecer
gotas de adoçante e palavras mornas

por isso,
tomarei chá de cadeira
enquanto me recusar
esse café a dois

2 comentários:

Anónimo disse...

Transpira doçura. Como uma recusa pode ficar doce assim? Dói um pouco, mas é lindo.

Beijo.

Flávia disse...

Só um poeta com P maiúsculo consegue dizer assim.

Um dos meus poemas preferidos. Do mundo.