12.12.10

it gets better

melhora, sim:
é só dar tempo
ao tempo que tiram da gente
enquanto insultam,
espancam,
inundam as ruas de intolerância

eu sou eu
e minha sexualidade
- mas não só ela

faça-me o favor:
espalhe esta notícia;
nunca quis ser o último
(e o único!)
a saber de mim



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É para fazer coro à campanha www.thetrevorproject.org.

8.12.10

sal a desgosto

não tem receita
nem bula
para sarar o bolo de culpas
que se enovelam no estômago

remédio?
ingredientes em falta
para voltar atrás
_só há overdose de dores genéricas
e montantes de claras em neve

provocar vômitos
não cura
a intoxicação

esse modo de preparo
ninguém sabe mais
porque o bolo solou
e o prazo de validade
_escrito em letras minúsculas no vidro cheio de pílulas_
se apagou com o tempo

se arrependimento fosse doença,
eu seria, hoje, um paciente terminal
e faminto

odeio a comida que servem nos hospitais,
mas adoro o soro com que me alimentam na veia;
tem sal na medida

27.11.10

frágil mudança de valores como ovos expostos à queda ou por que ninguém me prova o contrário

troco um pedaço de doce de goiaba
por uma tirinha de Trident

troco brincar de inventar bichos com as nuvens
pelos Trending Topics do Twitter

troco uma tarde inteira deitado na beira do lago do Ibirapuera
por 3 minutos de uma casquinha da Mc Donald's

troco cheiro de suco de maracujá
por mil borrifadas de um bom Dolce & Gabanna pour Homme

troco as estrelas do camping da cidade de Socorro
por uma suíte de hotel 5 estrelas em Dubai

troco pés no chão
por tênis Nike

troco moringas de barro
por uma garrafa térmica Aladdin

troco cofre de porquinho
por conta corrente no Banco do Brasil

troco este estar só
por qualquer paixão capitalista

_e sincera na mesma medida

22.6.10

vinte e sete versos refeitos

há anos, venho tentando dissociar
a rima lapidada da força bruta de uma palavra:
uma reinvenção

faço aniversário quando, ao contrário da letra datilográfica,
tenho identidade, tenho nossa caligrafia - minha, sua -
em todos os cartões que recebi

a você, meu convite para
tomar alguns copos,
repartir um bolo recheado,
rever amigos de tanto tempo,
estender as horas além do trabalho,
rir de nossas complicadas histórias
à luz de velas atoladas em brigadeiro;
ao som de palmas, e não palmadas do tempo

marque na sua agenda o dia
cuja noite terá presenças calorosas
em meio a bexigas coloridas,
poltronas pé-palito,
garrafas de tubaína
e meus desejos retrô

desejos do menino-eu que não quer crescer ligeiro,
toma poucos cuidados antirrugas
e promete começar o tratamento contra a calvície
com a mesma verdade de quem inicia uma dieta na segunda-feira

por que este ano seria diferente?
porque, daqui para a frente,
só será refeito o vigésimo sétimo verso deste poema


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Dia 24/06, quinta-feira, a partir das 19h, no Tubaína Bar, estarei à sua espera. É um lugar com preço "quase-justo", ambiente agradável, comida gostosa e cheio de memórias afetivas. Fica na rua Haddock Lobo, 74, Centro - São Paulo, SP. Aceita cartão de crédito e não tem consumação mínima. Mesa reservada em meu nome. www.tubainabar.com.br


Confirme sua presença comentando aqui ou respondendo ao meu email!

30.5.10

true colors

metade é meta,
metade outra, mentira e mais um pouco.
tá?

vêm o movimento,
a nova onda,
a luta,
a cópula

tingida de technicolor
sobre um salto de ponta-firme:
ela; a cidade de São Paulo

"Your true colors
True colors are beautiful,
Like a rainbow",
cantemos!

Cindy é a tendência desta semana
na Avenida Paulista

9.5.10

Não deixe a preguiça de lado

Vamos brincar de jogo dos sete erros? Mas você não terá de comparar duas imagens, somente observar esta fotografia que fiz em Manaus, AM, no ano passado.

- Ok, ok, você já não aguenta mais as minhas fotos de Manaus. É que a viagem rendeu tanta coisa que só aqui é possível publicar com alguma - mesmo que nem sempre tanta - relevância.

Voltando ao jogo... existe um animal nesta foto que é maltratado por homens em sua própria casa, assediado por turistas que pagam para tê-lo em volta de seus braços lhes dando um "prazer tropical", move seu corpo com uma malemolência de parar o trânsito e tem unhas longas, perigosas se cravadas na pele. Não, não... não me refiro à mulher do barco, mas ao bicho-preguiça que ela carrega no dorso. É em referência a ele que eu gostaria que você, por um minuto, pensasse no máximo de erros que esta situação representa do ponto de vista socioambiental.

Um minuto!



OS ERROS

1. Expor um animal como o bicho-preguiça ao sol durante horas a fio sobre um barco em pleno Rio Negro. É um bicho que vive sob a sombra justamente para se proteger. Tem pelos por todo o corpo, o que aumenta sua sensação de calor. Raramente desce ao solo, somente para fazer as necessidades. Até para se reproduzir prefere as copas das árvores. Dorme cerca de 14 horas por dia! Por que é que foram levar o bicho para este barco? Tá acordado, se desidratando e morrendo de fome.

2. Não é um animal doméstico como um cachorrinho que você pode levar no colo, no dorso, na cabeça para lá e para cá. Repare na feição de prazer e satisfação do indivíduo que a manaura carrega no barco. É muito difícil se criar preguiça em cativeiro por conta dos hábitos alimentares bastante peculiares. Duvido que, diariamente, esta mulher pegue um bicho desses na árvore e o leve para passear um pouco. Deve ficar preso em uma coleirinha improvisada no quintal do arbusto que ela tem em casa.

3. Oferecer o animal para turistas se divertirem, tirando fotos dele e cobrando por isso é crime ambiental. Nem sei como enquadrar isso. Mas dá cana! E o pior é o cara que fomenta a prática. Se você já fez isso, envergonhe-se e não saia mostrando sua foto "heroica" por aí como um troféu.

4. Se o barco, por algum acidente, virasse, quais seriam as chances de alguém tentar salvar o bicho? Fora que eles carregavam também jiboias, sucuris e outras cobras "exóticas" na mesma embarcação. Se virasse, duvido que eles não se borrariam de uma delas enroscar em seus pescoços. Eu disse "eles" porque havia um homem no barco também.

5. E quem fiscaliza isso, meu Deus? Só vistas grossas para o evento. Quando eu estava lá, no mínimo, três barcos se aproximaram do meu para mostrar jacarés, preguiças, cobras...

6. Os humanos que estão no barco não têm educação. Mas têm alternativas de trabalho também? Vai saber... Onde está a educação ambiental promovida pelo Estado do Amazonas? Eles só usam o dinheiro arrecadado para manter o famoso Teatro do centro da cidade bonito e para pagar o ar condicionado que ele consome?

7. O sétimo erro vou deixar por sua conta para permitir a nossa interação. Adoraria receber um comentário seu sobre o assunto. Ah, comenta, vai. E deixa de preguiça! Mas não deixe o bicho de lado para não virar assunto do Colheita Seletiva.

oito centímetros

da luz de fora
a silhueta era
sua;
a contemplação matutina
foi meu desjejum,
vejo vales no seu rosto
quando acordo
e grito do lado de cá:

"eco"
-
"eco"

- há resposta

minha questão crucial:
qual será a maior distância entre nós
de agora em diante?

quero que sejam somente esses oito centímetros bobos