8.4.14

alface à moda da casa

Hora do almoço. Aqui nesta praça de alimentação, ninguém é comensal. É todo mundo bicho que devora alface sem etiqueta alguma. Talvez, um nome bordado em tira de tecido a se por nos pezinhos da verdura: hidropônica, orgânica, envenenada. Qual é a sua? Dobrar a folha inteira, desdobrar-se para mostrar finesse no uso de garfos e facas - os primeiros sempre à esquerda. Nesta praça de alimentação, eu não me contento ao ver pessoas vestidas de Saint Laurent, Valentino e Chanel sem rasgar suas folhinhas com delicadeza. Eu não quero saber das suas etiquetas abaixo de cada gola - não é isso - mas das palavras que nunca podem ser ditas em um fast food. Um gole de Coca-Cola e tudo vai por água abaixo. Água e açúcar abaixo.

Glorinha Kalil não sabe o sabor de uma alface comida com as mãos, eu suponho. Glorinha Kalil não será convidada para minha próxima ceia em casa porque não sei me comportar em minha intimidade. Jantarei sozinho, fazendo rolinhos de alface com azeite e sal, levando-os direto à boca com as mãos. Oferecerei um banquete a mim mesmo: uma tigela cheia de crespas, lisas e roxas variedades de leveza crocante. Só cuidarei para não me intoxicar. Dizem que água sanitária resolve tudo; a gramática das etiquetas inclusive.

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