18.6.11

poeta sem nariz vermelho

me encomendaram um poema sobre palhaços,
me jogaram no meio de um palco
para fazer sorrir entre cantos,
olhando para a plateia
ansiosa por uma gargalhada

ela vem de dentro, de um lado a outro da boca
pintada de batom,
suada como o nariz rouge no fim do esquete fica
_a palavra definitiva se chama "máscara"
e se apaga com os holofotes
porque "o cara" se esconde sob camadas de pancake;
depois, é cara lavada

improviso, inspiração

o palhaço é uma resposta
que não chega
nunca,
a carta mais esperada na caixa do correio,
um torpedo promocional da operadora de telefonia
no meio da madrugada

tá de brincadeira, né?

fazer sorrir é como ter contas a pagar,
é levar a sério o que nem é preciso
- pensar que o crédito do cheque especial está no fim;
e daí?

a hora mais feliz de um dia inteiro
acontece quando cruzo com ele
- que não sou eu, mas sou outro e eu também -
e soa como uma piada sem fim,
sem pé nem cabeça

o que eu quero com isso?

quero aplausos para um poeta sem graça alguma,
mas um palhaço imerso em melancolia
tentando ser feliz



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*para Fulana e Melão Cólico

1 comentário:

Carmezim disse...

Meu palhaço querido! Saudade.