13.12.09

Paula, Suane e Cachorro na internet

À espera das mães que conversavam sobre a rotina da Vila de Paricatuba, em Iranduba-AM, brincavam Paula e Suane sob a sombra de uma árvore bem no centro da comunidade.

Paula, timidamente, não diria uma palavra até que eu descobrisse seu nome, revelado pela mãe. "Então, você se chama Paula?", abri-me. "É", disse monossilábica. Eu lhe contei que tinha uma amiga com o mesmo nome, de quem eu gostava muito, que sempre achei um nome bonito etc. Ganhei a criança. Dali para a frente, eu teria uma companheirinha curiosa sobre o mecanismo da câmera e segundos de uma divertida chance de acompanhar o encantamento de quem não sabia ser possível guardar a imagem de alguém numa máquina esquisita como aquela, para depois poder distribuir por aí. Paula se animou e me contou o nome de sua amiga gulosa.

Suane, com um inseparável salgadinho, mordia as bolinhas de milho sem cessar ao passo que eu as acompanhava na descoberta da fotografia. A "Magali do Amazonas" queria ver tudo e até ser fotografada por Paula. Dava risada quando se espelhava no visor da câmera. De volta em minhas mãos, enquanto eu me esforçava para limpar o farelo de salgadinho da objetiva, um cachorro se aproximava, balançando rabo e orelhas. Magro, triste, tinha tumores nos mamilos e parecia sedento. "Olha só, um cachorro. Qual o nome dele, Suane?". "Cachorro", disse-me sem constrangimento. "Mas todo cachorro tem um nome, não é Paula?". "O dele é Cachorro". Engoli a história a seco e me mantive a clicá-las. Sem contestações.


Até descobrir os latões de seleção de lixo que podem ser vistos atrás das meninas nas fotos. De quando cheguei ao Amazonas, fui me frustrando aos poucos, achando que educação ambiental era só para quem vinha de fora, que a população de lá desconhecia o que era respeitar o meio: vi animais explorados, lixo sendo depositado languidamente sobre o rio, toras de madeira supostamente ilegais... Mas o que despontava por trás das meninas e de Cachorro era a pedagogia em função da educação ambiental.

As crianças, como Paula e Suane, que frequentam a escolinha aprendem a importância da separação de materiais para a reciclagem e de como isso pode beneficiar tanto o meio ambiente quanto a elas mesmas. Por exemplo, naquela época, a escola fazia uma campanha de arrecadação de papelão. Se eles alcançassem um certo peso da matéria-prima, poderiam vendê-la a fim de comprar o aparelho que faria que a escola tivesse acesso à internet pela primeira vez.

Obviamente, seria fundamental que o governo fornecesse o aparato para aquela escola estar plugada. Porém usar o esforço dos alunos e das famílias para obter melhorias estruturais tendo como mote a seleção de materiais e a reciclagem é uma vantagem educacional que aquela comunidade tem. Pontos para quem teve a ideia e quem conseguir executá-la.

Paula, Suane e Cachorro se dispersaram. Fui andar pela vila para conhecer um pouco mais da região, que fica a 30 minutos de barco da capital. Na volta, pelo caminho, nem sinal do saquinho que abrigava os deliciosos salgadinhos de Suane. Fica a pergunta: onde será que ela jogou aquele perigoso plástico?

1 comentário:

Anônimo disse...

Rominho, querido,

Que delícia ler aqui o que seu olhar seleciona e o seu coração adoça!
Sem querer vem uma saudade enorme dos momentos sempre felizes que sua presença faz acontecer!
Esteja bem, viu!? Leve, atento à vida e distraído pelo amor!
Grande beijo!

Leo Cavalcanti (SSA-BA)