5.12.09

Ecobárbara

Descia a rua Frei Caneca com visitas que eu tinha em casa. Uma delas, meu primo Marcelo. Entre nossas conversas, vejo uma amiga atravessando a rua. Vinha com umas cinco ou seis sacolas de supermercado na mão, talvez cheias de coisas gostosas para se comer em um domingo à noite.

- Oi, Bárbara! Como vai, linda? Fazendo compras, heim?

- Ai, Romulo, eu tenho tantas ecobags em casa, mas sempre esqueço de trazer para o supermercado - alertou-me como se estivesse sendo julgada por mim. Assim seca, direta, sem rodeios.

Eu mal sabia o que falar. Fiquei atônito, por segundos, sem movimentar um músculo da boca. Minha graça estava estatelada no meio-fio. Só me perguntava: "por que será que ela se justificou? Só lhe perguntei se fazia compras... nada mais".

Meu primo nos jogou coletes salva-vidas: para mim, por ter quebrado o silêncio além-estratosfera que me constrangia inteiro; para Bárbara, por tê-la confortado com um discurso libertador, que a faria temer menos o meu olhar de "feitor ecológico, juiz de toda e qualquer ação contra o meio ambiente". Ele explicava-lhe que, se todos deixassem de usar sacolas plásticas, muitos perderiam seus empregos. Portanto, em vez de um problema ambiental solucionado, haveria um social ainda mais importante - concordo.

Em tempo, respiramos fundo, eu e Bárbara - cada um no seu fôlego aliviado -, e nos despedimos.

Posta a crise: o que as pessoas pensam sobre mim, sobre meu comportamento ambiental?

Segundo a criativa e perturbadora sentença de Marcelo, filósofo e meu primo nas horas menos filosóficas, meu trabalho e esforço diário consistem em fazer uma lavagem cerebral nos meus colegas, amigos e leitores, conduzindo-lhes a um pensamento ecoterrorista, escravizador e desumano. Ainda de acordo com sua imaginação, quem foge das minhas rédeas leva chibatadas com um chicote feito de garrafas PET recicladas - ok, admito, esta última foi engraçada.

Confesso que, de alguma maneira, a imagem que muitos têm de mim me incomoda. Não sou ícone da consciência ambiental, tampouco mártir da revolução ambientalista. Sou, sim, alguém que se importa com o impacto das minhas ações sobre as coisas, animais, pessoas e espaços. Minha bandeira é verde, mas não a elevo em vão. Tudo tem seu tempo. Eu ajo pelas beiradas, como uma boa formiga faz para carregar uma folha de bananeira até o formigueiro. Odeio ser pressionado, logo não pressiono.

É certo que usar sacolas plásticas com alguma atenção e economia pode contribuir para o não-desperdício. Se você recusar aquelas três sacolas que o empacotador do supermercado insiste em colocar duas caixas de leite dentro delas, seu feito já terá algum benefício ambiental. As ecobags são uma mão na roda no dia a dia, mas as sacolinhas de plástico têm seu valor funcional. Vez ou outra, aqui em casa, de tanto usar ecobags (tenho uma coleção imensa, que tento doar sempre que posso), temos um déficit de sacolas plásticas e não há onde colocar o lixo orgânico ou o selecionado para descartá-los. Por isso, ser razoável é a melhor maneira de agir.

Se der para carregar a ecobag com você, ótimo. Caso não, traga as sacolinhas plásticas para casa sem culpa. Use-as quando necessário. Prometo não dar chibatadas com dores de PET se vir sacolas plásticas em vez de ecobags quando nos encontrarmos na volta do supermercado.


Ah! E a primeira pessoa que fizer um comentário sobre este post, leva a ecobag da foto. Mas precisa dizer: "eu quero a minha ecobag sem chibatadas".

3 comentários:

Anônimo disse...

eu quero a minha ecobag sem chibatadas".
Camila, coração

Andre de P.Eduardo disse...

Beijão pra você, Rô!! Adorei seu blogue!
Carinho!

Lilian Juliana disse...

"Eu quero a minha ecobag sem chibatadas". Pro caso da Camila não ter levado o prêmio!! Eu quero! Amore, passei rapidinho por aqui. Vou voltar. Amo você! Cada vez mais...
Lindas descobertas, as suas, da Paula, do Cachorro..

Ah, assisti Avatar e lembrei muito de você. A ligação deles com o ambiente, os animais, as árvores, tudo, tudo. Se não viu, vai ver. Você vai se emocionar, certeza. Beijocas!!!