10.9.06

empréstimo

com uma borracha apagam os dedos teus
numa fissura sem costume do meu desenho
meu corpo

cada deslizar é um risco
risco de ter-me em papel branco

não quero deixar vísceras espalhadas
pela cama, pela celulose pura

quero vestígios de minha presença ríspida
rija
rio
gargalhadas

as montanhas que os lençóis imaginam seus
vejo de pé
com os pés n'água

eu não vou te dar o gosto de me anular
porque não quiseras minha lembrança

meu caderno tem teu grafite
feito a unha e arranhões

eu não vou te dar o gosto
de escrever-me nesse teu caderno pautado
porque tua caligrafia é simétrica demais

mas ofereço meus lápis de cor
para me colorir
sem contorno

um empréstimo

2 comentários:

Anónimo disse...

O EMPRÉSTIMO: VC,viu?

Eduardo Pelosi disse...

pq o colorido é mais feliz?

abraço