20.4.12

cio e divórcio


Tec-tec-tec. Achei que fosse a chuva na janela de vidro, mas era você batendo seus dedos pesados no teclado do notebook. Sexual, sua batida é uma preliminar.

Olhos abertos na madrugada, luminária de luz amarelada e tímida sobre a escrivaninha. Você sentado na cadeira me reescrevendo, me recriando em personagens que jamais sonhei ser. Experiência de quase-morte é todo ponto-parágrafo que você demora a continuar.

Finjo dormir para não ter de sair da cama e enfrentar a porta de saída (aquela de emergência). Eu me casei com sua literatura e só. Você só casou com minha rotina. Nós dois a sós não somos letra e música mais. Você é máquina de escrever histérica movida a papel demodê; eu, tablet multitoque com tela capacitiva. Conflito de tecnologias, gerações.

Peço o divórcio. Preciso dormir só mais cinco minutinhos. E em silêncio - de preferência.

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