9.10.07

tangos

quero dançar um tango
quero, entre pés e pernas, balançar um pouco
este corpo que só serve
de meio, veículo e suporte
para uma consciência que quer liberdade

quero ouvir um tango
como se cada palavra cantada
fosse uma melodia única
um som estranho ao meu estado coberto por fel

um tango de libertação e virtude
um tango de [verdadeira natureza]
um encanto para enfeitiçar

quero ouvir um tango
neste momento-já que não espera
não espera sequer um ruído
despertar do silêncio

quero poetizar um tango
como se precisasse me revelar
por entre meus passos e abraços
solitários

3 comentários:

Eduardo Pelosi disse...

"ligue a vitrola,
vamos dançar,
toque uma valsa,
um tango ou mesmo um rock'n'roll"

Unknown disse...

ou "rodopiando ao som dos bandolins"...

Rominho, há quanto tempo que não leio um livro tão pequeno!, que leitura doce... como me lancei no tempo e no espaço no mergulho que este poema como um torvelinho me absorvia!
que bom.
Dancei, mesmo sem saber dançar valsando um tango como nunca seria capaz. E embora você não saiba, rominho, enquanto este poema você escrevia, estava tão livre quanto um deus, tão sozinho quanto um deus em toda sua perfeição. A liberdade e a criação são paradoxos. A primeira é sempre um abandono completo, a criação é dependente, é cerceante. Talvez por isso estreja tão preso em si mesmo, você quer libertar-se no limite da imaginação que acordado não tem. Sua liberdade é a catarse, rominho, a sua e a de todos para quem mostra o caminho. Não nos deixe de apontá-los, senti-me livre de meus limites enquanto lia, por isso te peço, rominho, peço-te que escreva e me mostre essas cores que a realidade também tem, quero ser capaz de fazer coisas que meu corpo não me deixa. Fez-me voar como um planador. Faz de novo.

abraço, meu amigo
amo você

Hemo

Anónimo disse...

Vibrantes palavras como os suspiros de um violino num acorde de tango.
Melancolia e desejo.