Estou no ponto,
diz quem me deseja
Estou quase no ponto,
diz quem me analisa
Estou no ponto e cansado de esperar,
digo aos meus botões
- neste instante, todos fora das respectivas casinhas
Com o peito aberto,
pegarei o primeiro ônibus que aparecer de agora em diante,
penso
- desisto de gastar minhas horas com isso
Sinal de pare,
feição de bravura,
a nota é de cem reais
- foda-se o cobrador
que nunca me olha na cara
e escuta sua música
em estilo qualquer-coisa-perturbadora universitária
no penúltimo volume
Cedo lugar para a moça
que julgo estar grávida
- a única coisa boa do caminho:
não falo da cessão,
mas do julgamento,
da dúvida,
dos "ses" dela
(menino ou menina?
macho ou fêmea?
hétero ou homo?);
e dos meus
(serei pai?
serei mãe?
serei ser?)
Solicito parada
puxando a alavanca de emergência
em vez da frágil e virulenta cordinha plástica:
Só assim, com estilhaços de vidro na pista,
passageiros horrorizados
e sirene de polícia,
darei meu troco máximo
pela longa espera
Obrigado, motorista
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