16.3.15

memorizar

duração, dimensão:
o tempo nunca é,
diz o corpo

corpo-tempo: era
o corpo tem poeiras,
eiras beirando o abismo
das reflexões

o tempo não ampara
o espelho espalha,
então, uma visão
narcisista do ser:
eu me reconheço

o tempo será minha recaída
no gargalo da ampulheta

tem pó
pra café
e filosofia

tanto pó
quanto tem poema
na varredura do quarto de dormir
e acordar

pelos e peles
são meus calendários

9.3.15

a calçada é pública

me toma de assalto
o homem posto
na calçada

rouba de mim
o risco,
o traço
de um horizonte tranquilo

e o marginal sou eu,
e o marginal é ele
enquanto o público
aplaude de pé

o público
encoberta

todo dia é frio
às margens do asfalto

8.3.15

Jaçanã não sai do lugar

fui comprar tíquete,
fui beber cafezinho,
fui ler manchetes na banca,
fui checar o pulso às 23h
"trem, mas acabou"
- foi o que me disseram
agora, amor,
posso ficar
quantos minutos
queira
mamãe,
sinto muito:
só amanhã de manhã;
vá dormir, vá

2.3.15

bacia/das ch/uvas

a/manhã de sol é de/morada
ch/amo vem/to com bacia
de ch/uvas na mão
bento c/acho
que ha/verá tempestade
no c/eu da boca
já não morre/ria
de sede:
ar/de
cor/tar-se
com/o
fruto
em sua
meta/de
vim/ho
seco
na pre/visão
do tempo/ral