26.11.09

Por um filho nada Xurumambo

O que você verá a seguir é, senão irritante, constrangedor no mínimo. É daquelas coisas que se lê a primeira, a segunda, a terceira vez... para entender de onde vem tanta ignorância. Como pode um ser se expressar dessa maneira, na contramão de um movimento mundial que é urgente e prioriza o bem-estar de gerações atuais e futuras?

Garimpei esta pepita em uma de minhas visitas ao You Tube, para assistir ao ótimo e educativo “The Story of Stuff”. A pessoa se denominava "Xurumambo" e comentava o conteúdo ecopanfletário do vídeo.

Prepare-se para fortes emoções: 

“Ainda está para nascer o Sol que vai iluminar o dia em que eu vou ficar menos tempo embaixo do chuveiro pra economizar água pra algum filho da puta que vai nascer daqui a 20 anos. Ou deixar de andar na minha 4x4 queimando litros e litros de gasolina sem a menor pena. Bando de fodidos do caralho. Ecologia é a típica consciência do pobre: socializar a miséria. Se o planeta não aguenta, então ele que se foda, eu quero é gozar!”

Há pais que passam toda a sua existência se projetando na vida dos filhos, desejando que eles sejam médicos ou empresários bem sucedidos, preocupados com o que os outros irão pensar se seus rebentos forem gays ou adeptos de um baseado. Mas eu, se tiver um filho algum dia com a cabeça de um Xurumambo desses, vou pedir para a encomenda voltar para o remetente, exigindo indenização por danos sentimentais e frustração, temperados com colheres cheias de decepção e revolta. Prefiro não ter filhos a conviver com um sujeito assim.

E você? Quanto tempo a menos pode ficar debaixo do chuveiro ou deixar seu 4x4 na garagem quando nem precisa dele? Alguém vai ter de compensar os estragos que um Xurumambo faz por aí. Se eu fosse você, em vez de ensinar seu filho a dirigir com 10 anos de idade – para mais tarde queimar litros e litros de combustível –, preferiria mostrar os benefícios de pedalar em um parque longe das cidades poluídas. Aqueles parques preenchidos com ar que rasga o peito de tão puro.

Ao contrário do que Xurumambo prega, Ecologia é a típica consciência de quem se importa com o outro e consigo mesmo, para que todo mundo goze sem f**** o planeta.

18.11.09

Atire a primeira semente!


Um jardim construído por pássaros, insetos e ventos sobre as ondas cerâmicas manchadas por limo e sol. Descendo as ruas de Tiradentes, MG, minha surpresa foi me deparar com um "telhado verde" feito naturalmente. Admirável. Sei que o conceito de telhado verde é outro, apresenta outras características, só que não dá pra negar a beleza da formação espontânea disso aqui e lembrar de quão ecologicamente interessante pode ser uma ideia assim.

Repare como as plantas se dispõem quase que milimetricamente organizadas sobre as telhas úmidas desta casa, ricas em matéria orgânica para a alimentação das espécies. Embora pareçam resistentes, a chuvinha que cai na cidade dá uma mãozinha para as plantas sobreviverem. Queria saber quais espécies são essas. Alguém tem pistas de seus nomes?

Que tal dar uma ajudinha à natureza e começar a semear sobre as telhas de sua própria casa? Se seu jardim suspenso tiver um grande volume e for bem planejado, ele ajudará a equilibrar a temperatura e dará um pouco de umidade ao interior do seu cafofo, e seu ventilador ficará descansando um pouco no verão. Vai ser economia de energia para esbanjar bem estar sem culpa.

Se acha que uma fachada como esta é ousada demais para você, comece pelo telhado da área externa, da churrasqueira por exemplo, e me conte se fizer alguma diferença no frescor. Para minha tristeza, moro em apartamento, mas se eu tivesse uma casa assim, atiraria a primeira semente agora - de vidro ou barro queimado, qualquer que fosse o meu telhado.

15.11.09

Travessia


Aquele sol fervia meu cérebro a 42º C. Enquanto me aproximava para fazer fotos do igarapé do Educandos, em um dos bairros de Manaus com o mesmo nome, ele vinha ligeiro. Passava o remo sobre a água do Rio Negro na mesma força com que se corta manteiga gelada. Entre o barulho da água, o som oco do barquinho batendo no cais improvisado me dizia para me aproximar.

"Olá, tudo bem?", perguntei. A resposta foi um queixo afirmativo e cadente, seguido do levadiço chapéu na cabeça. Nada mais nos segundos seguintes, só as investidas aberturas do diafragma da minha câmera eram ouvidas. Até que descobri o que ele fazia ali.

Entre uma margem e outra do igarapé, há uma ponte para se fazer a travessia, mas qualquer manaura (quem nasce em Manaus) que trabalha no porto ou vai ao mercado municipal e tem um troco sobrando prefere pagar R$ 1 para cruzar o rio de barco, que é mais rápido e suportável que enfrentar o sol a pino. A viagem dura menos de dois minutos. Se fosse pela ponte - como burramente eu fiz - seriam necessários 20 minutos.



Embora o rio ainda esteja passando por uma limpeza e revitalização, sobra lixo para todo lado. E é desse lixo que o barqueiro vive também. Nas horas sem passageiro, ele sai catando objetos de plástico e alumínio que boiam no rio ou estão se degradando pelas margens. "Quando não tem ninguém, a gente fica tirando o lixo daqui", diz numa rouquidão de garganta seca ou de quem não mais estava a fim de papo. Preferi a segunda possibilidade. E emudeci.


Ele ficou parado sem me dizer seu nome, o que fazia com o lixo depois e de onde era. Mas isso eu só descobriria mais tarde, quando conheci uma outra barqueira, cuja certidão de nascimento havia sido comida por cupins, o que lhe faz não saber precisamente sua idade. Sobre ela, falarei (muito) em outra oportunidade.

O abre-fecha do diafragma voltou a anunciar sua presença, em meio aos pássaros que piavam algum sinal de vida vez ou outra no igarapé do Educandos: úmido, quente e infelizmente sujo.

Virou o quê?

Tá vendo este suporte para notebook? Advinha do que ele é feito? A resposta foi tão óbvia quanto a infinidade de coisas que um caixote de feira pode se tornar. O pretinho ao lado foi feito por mim e, acredito, é uma ideia original que quis compartilhar.

Eu andava à procura de um suporte barato em uma dessas lojas de informática, mas foi no meio da rua que veio o insight. O caixote estava encostado na porta de uma pizzaria, todo sujo de tomate, pedindo para ser adotado. E eu o trouxe para casa - onde já havia três como rack para TV e display dos meus CDs!

Neste caso, a dica é usar caixotes de feira com profundidade compatível com a altura de suas pernas deitadas ou cruzadas (lembre-se que você pode ter de passar horas em frente ao notebook durante um longo dia de trabalho...). Escolha um caixote com estrutura firme, limpe-o para evitar que embolore no futuro e separe algumas ferramentas, como martelo e chave de fenda.

Inicialmente, entre as laterais mais longilíneas da caixa, determine qual será aquela por onde suas pernas irão entrar. Force a saída das ripas com a chave de fenda, inserindo-a entre as frestas, e use o martelo para concluir o serviço. Tenha cuidado para não danificar seu caixote. Martele com leveza. Sugiro que, em um dos lados, deixe uma ripa pelo menos. Ela dará resistência e será valiosa para sua pintura na hora de customizar.

Para dar nova cara ao caixote, usei uma tinta multiúso spray (que ganhei de uma assessoria de imprensa, mas você pode usar qualquer tinta de madeira que sobrou de alguma reforma. Se usar pincel, vai ser mais fácil e saudável para você e o acabamento será melhor), fita crepe para marcar o desenho como um estêncil às avessas, jornal e adesivos.


Forre o chão com jornal, use a fita crepe da espessura que desejar e marque desenhos para sua caixa delimitando as regiões onde a tinta não cobrirá. Pinte toda a extensão dela, deixe secar por tanto tempo indicado pelo fabricante da tinta e retire a fita crepe em seguida. Arremate com adesivos. Para o meu suporte, eu usei aquelas versões de adesivos para parede - que ganhei também!

Olha, eu estou adorando usar meu notebook em cima do suporte. E, de vez em quando, até o uso como mesinha para comer alguma coisa em frente à TV. É prático, seguro e, para mim, teve custo zero!

Tente.

14.11.09

Antonia prova que lacre de lata é arte e não lixo


Ao abrir a porta, ouve-se o tilintar dos lacres de latinhas de alumínio que servem de cortina na casa de Antonia Romano, de 74 anos, na Vila Formosa, em São Paulo. Cada pedacinho da casa tem um toque metálico. Porta-lápis, bolsas e ímãs de geladeira são parte do trabalho dessa aposentada que, por acaso, se tornou artesã e agente ambiental.


Antonia gostou tanto de um presente dado por sua sobrinha, uma bolsa feita de crochê e lacres de alumínio, que resolveu reproduzir o modelo e inventar produtos.

'Por aquela bolsa, eu fui tirando ideias, inventando uma coisa e outra. Fiz cortinas, vestidos.' Os lacres chegam à sua casa por meio de doações de vizinhos e parentes. Todos os que conhecem o trabalho dela nunca se esquecem de guardar a matéria-prima. Em troca, recebem presentes e gratidão.

'Só na cortina da janela, foram 3.600 lacrinhos', revela Antonia. Em vez de ocupar aterros sanitários, onde podem demorar 200 anos para se decompor, esses lacres metálicos são reaproveitados e ainda ajudam a complementar a renda da artesã. Ela sabe que os lacres, assim como as latas, são recicláveis, mas prefere transformá-los em artesanato. Antonia não guarda os segredos do que faz: já compartilhou sua arte com muitas pessoas.

'Dá para ganhar um trocadinho', diz outra aposentada, Maria Zochi, de 74 anos, que se tornou artesã por influência de Antonia. O que Maria aprendeu com a amiga serviu para gerar renda e passar o tempo.

Aparecida da Silva, de 43 anos, outra aprendiz do grupo, é mãe de uma criança deficiente e produz em ritmo acelerado bolsas de crochê e lacres para ajudar a pagar o tratamento do filho. Assim como a mestra Antonia, ela é consciente de seu papel ambiental. 'O que eu faço vai se transformar em coisas bonitas e não vai ser jogado no lixo', explica Aparecida.

O artesanato produzido por Antonia e Maria é uma alternativa ao ócio, comum na vida de idosos. O crochê e os lacres devolveram a oportunidade de interagir novamente com pessoas fora do círculo familiar.

'Uma atividade artesanal contribui para o desenvolvimento de habilidades psicomotoras e cognitivas, além de favorecer a ampliação do repertório social, para o contato com outras pessoas e, em alguns casos, a geração de renda', diz o psicólogo Salvador Rebelo, secretário do Projeto Revivendo, comunidade da terceira idade da USP/Bauru.

Quem adquire algum de seus produtos logo os divulga para outras pessoas. Assim, as artesãs recebem mais fregueses em casa. O brilho nos olhos de Antonia ao falar de seu artesanato reflete tudo o que já produziu. Orgulhosa desse trabalho, ela não se esquece de mostrar os vários certificados pendurados na parede da sala. Em destaque, o de agente ambiental, recebido por multiplicar seus conhecimentos numa oficina da qual participou.

Além disso, Antonia afirma que sua produção não vai parar tão cedo. Salvador analisa: 'Considerando-se produtiva, ela se distancia do universo de rejeição, preconceito e exclusão que cerca o idoso.'

Quem quiser aprender o que faz a artesã, basta visitá-la, na Vila Formosa, bairro da zona leste. É possível conferir a produção de alguém que, em referência às conhecidas organizações não-governamentais, pode ser chamada de 'indivíduo não-governamental'.

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O Estado de S. Paulo, em 26/09/06 - Autor: Romulo Santana Osthues

Primeiro passo

Acompanho a rede Ecoblogs, uma iniciativa do grupo Mapfre, há quase um ano. Muitas vezes, os posts dos autores da rede (Rodrigo, Isis...) me oferecem joias como fontes de pesquisa e inspiração para meu trabalho na coluna Ecodécor, da revista Casa & Decoração*.

E foi assim, pesquisando entre os Ecoblogs, que eu me dei conta do que faltava para mim, do que eu poderia realmente escrever sobre e ser lido por uma audiência interessada.

Até amanhã, terei de inscrever este blog - pensado, desenhado, refletido em quatro dias - para concorrer à vaga aberta na Ecoblogs, o que traria uma ampla divulgação, além de fazer parte do rol de bons agentes ambientais que são os blogueiros de lá. Embora a oportunidade da Mapfre tenha sido um estopim para o que pretendo com a criação deste espaço, não deixarei a ideia esmaecer caso não consiga a vaga. Esta é uma empreitada pessoal acima de tudo.

Meu trabalho consistirá no relato sobre a extensão do meu dia como pesquisador, leitor, repórter, escritor e sujeito consciente da minha função ambiental. Sem ecoterrorismo, proponho leveza nos posts, elaborados de forma inspirada e informativa. Abordarei muitos temas por aqui, entre eles: ecoturismo, ação sustentável, projetos socioambientais, atitudes que fazem a diferença, literatura, fotojornalismo... Mostrarei ideias, depoimentos, poemas, reportagens, perfis, ensaios, roteiros turísticos, relatos, videos e fotografias - e o que mais aparecer e merecer atenção.

Para me dar sorte, o segundo post será um resgate daquele que foi o primeiro texto jornalístico que escrevi sobre a temática, publicado pelo jornal O Estado de São Paulo por conta de uma premiação - parte de uma semana de debates sobre sustentabilidade e jornalismo promovidas pelo grupo.

Primeiro passo dado, primeiro post feito. E que a divulgação seja feita de boca a boca, melhor, de link em link por quem me ler.

Volte sempre.

* o que escrevo para a revista Casa & Decoração é de exclusividade da On Line Editora, portanto, nada do que você lerá aqui estará nas páginas da publicação, tampouco o contrário será verdadeiro.

9.11.09

só rindo

num mar que não está pra peixe,
tampouco amor encontro

por isso, tentei mergulhar
num rio
para saber se meu problema com o futuro
seria pressão alta ou diabetes
correndo nas veias

só que a vida não é tão, assim,
salinidade ou doçura,
ela feita de lágrimas imprevisíveis

sal e açúcar em punho,
esperei o nosso encontro
com o mesmo sentimento de quem aguarda
uma bagagem na esteira de um aeroporto:
eu, três pombos se debatendo no estômago;
e a mala, rótulos estampando fragilidade

vesti camisa passada,
ri para expor a pasta de dente
e desgrenhei sistematicamente o cabelo
para te ver

era minha tentativa
de poder ser par,
ser ambos,
sermos nós dois

mas sou só,
sou só mais um,
já que trouxe nas mãos
a sua mochila cheia de vocês
e me deu, como um souvenir,
o retrato falado
de quem é sua felicidade


frustrado, me sobra é o que,
neste Rio ainda só seu,
sorrio

para não chorar