perto da janela corre um vento leve
balança os panos negros
escudos ao Sol
as cortinas que me escondem do dia
brincam como se fossem formigas
mergulhadas num açucareiro
vão e vêm de um lado a outro
de um outro vão
vêm de um lado
de um lado de cá
de um lado de dentro do quarto
onde não há formigas, nem açúcar
só há cortinas dançando
e a vontade de morar no jardim
quero ver minha janela de fora
para saber se o encanto
encontro interno
desse lado ai
as formigas fazem fila para levar açúcar à rainha má, fila longa pra chegar bem longe-quanto-mais-longe-tiver-de-chegar, até não mais ver fim deste poema que se prolonga porque segue o caminho das formigas até descobrir como é ver o quarto desde um formigueiro, as cortinas balançam escuras cada vez mais longe como o vento rasteiro
alguém pisou fundo no formigueiro
e deixou formigas sem rainha, sem açúcar
sem verso meu que valesse a pena de ser palavra e sobremesa
28.8.06
21.8.06
desperdício
fruta fruta
cora madura de um pecado recente
cor da culpa de conversar ausente
contigo
ouvidos sensíveis às ondas de tua boca
mente contrapartida nas ondas da permanência
limbo, esquecimento de ti
talvez viajara sôfrego e cansado por sentir falta
se não te dei atenção
me desculpa os olhos distantes meus
te vi com perfil isolado
sol ao lado que te sombreava
imagem escura de teu rosto iluminado
pelo outro lado que não via
eu quis te ter o interno
mas mantiveras as bobagens epidérmicas de tua eloqüência
quis que te calastes
o fiz com este beijo
cora madura de um pecado recente
cor da culpa de conversar ausente
contigo
ouvidos sensíveis às ondas de tua boca
mente contrapartida nas ondas da permanência
limbo, esquecimento de ti
talvez viajara sôfrego e cansado por sentir falta
se não te dei atenção
me desculpa os olhos distantes meus
te vi com perfil isolado
sol ao lado que te sombreava
imagem escura de teu rosto iluminado
pelo outro lado que não via
eu quis te ter o interno
mas mantiveras as bobagens epidérmicas de tua eloqüência
quis que te calastes
o fiz com este beijo
8.8.06
favor
mainha, me dê um trocado
me dê um bocado de pronome possessivo pra eu ser gente
um pouco de fermento pra eu crescer feito bolo
e derreter na boca de alguém
painho, me dê coragem pra provar veneno
de gota em gota ser um sono lento
dos meus olhos quando eu vir paisagem crua
.
menino bobo, pra que vaidade
se na verdade só sobra o coração?
seu nome não precisa de meu, nem nosso
seu nome precisa de solo e céu
menino, calma
o rótulo da garrafa torpe
pede cortiça, pede lacre
e não um gole largo de peçonha
.
menino, nos faça um favor:
feche esse livro e venha para a mesa
- hoje tem salada de sonhos
me dê um bocado de pronome possessivo pra eu ser gente
um pouco de fermento pra eu crescer feito bolo
e derreter na boca de alguém
painho, me dê coragem pra provar veneno
de gota em gota ser um sono lento
dos meus olhos quando eu vir paisagem crua
.
menino bobo, pra que vaidade
se na verdade só sobra o coração?
seu nome não precisa de meu, nem nosso
seu nome precisa de solo e céu
menino, calma
o rótulo da garrafa torpe
pede cortiça, pede lacre
e não um gole largo de peçonha
.
menino, nos faça um favor:
feche esse livro e venha para a mesa
- hoje tem salada de sonhos
3.8.06
empata foda
tem alguém no canto da parede
revisitando o encontro
do meu lado mais direito
com o meu lado mais esquerdo
tem alguém atrapalhando na esquina
da minha vila mais febril
com a outra mais-que-outra rua fria
esse quarto tem segredos
tem beleza interna
mas pintura fora
só um muro chapiscado
derme
espinacenta como um porta-alfinetes
eriçada em resposta à borboleta na nuca
e um quase, quase, quase lá orgasmo
se alguém olhar pela janela
verá instinto
melhor apagar os muros
desfazer os encontros e esquinas
que nos escondem do mundo
melhor acender a luz
para nos revelarmos
tem alguém aí?
revisitando o encontro
do meu lado mais direito
com o meu lado mais esquerdo
tem alguém atrapalhando na esquina
da minha vila mais febril
com a outra mais-que-outra rua fria
esse quarto tem segredos
tem beleza interna
mas pintura fora
só um muro chapiscado
derme
espinacenta como um porta-alfinetes
eriçada em resposta à borboleta na nuca
e um quase, quase, quase lá orgasmo
se alguém olhar pela janela
verá instinto
melhor apagar os muros
desfazer os encontros e esquinas
que nos escondem do mundo
melhor acender a luz
para nos revelarmos
tem alguém aí?
1.8.06
destinatário
prazer pra ter um selo
pra deixar presente a saliva
no papel, na caneta, no perfume
uma carta perdida entre montes
de grama, de areia, de vícios
pra ter prazer um beijo
de uma letra na outra
entre uma palavra e outra
que pedi
uma farta angústia nos dedos
um coçar dos olhos para ler
teu recado
aliás,
teu mais que recado
pra ter prazer
prazer pra ter
teu amor
pra deixar presente a saliva
no papel, na caneta, no perfume
uma carta perdida entre montes
de grama, de areia, de vícios
pra ter prazer um beijo
de uma letra na outra
entre uma palavra e outra
que pedi
uma farta angústia nos dedos
um coçar dos olhos para ler
teu recado
aliás,
teu mais que recado
pra ter prazer
prazer pra ter
teu amor
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